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sábado, 26 de janeiro de 2008

Um pequeno (mau) exemplo

Publico aqui este texto do colunista Fernando Canzian, da Folha de São Paulo. Creio que não há educação verdadeira que não se alicerce no despertar para a criticidade. Leia e reflita um pouquinho mais sobre o estado de coisas no nosso país:



Como todos sabemos, o Ceará é um Estado rico, de Primeiro Mundo. Não falta nada à gente local e os serviços públicos são ótimos. Os cearenses que vieram para o Sudeste em busca de oportunidades é que são uns ingratos.Com dinheiro sobrando, o governo local decidiu gastar cerca de R$ 30 milhões para a compra de 200 veículos da marca Toyota Hilux para a polícia.





Todos com câmbio automático e tração 4x4.Deve ser porque boa parte dos veículos será usada em vias asfaltadas e planas, dentro do projeto Ronda Quarteirão do governador Cid Gomes (PSB), irmão do deputado federal Ciro Gomes (PSB).Segundo relato do jornal cearense "O Povo", foi no "espetáculo" de uma carreata seguida por helicópteros que Cid e Ciro entregaram em grande estilo algumas dessas viaturas há alguns dias em Fortaleza.




O programa inclui ainda motocicletas e demais equipamentos de segurança.Ao todo, o Ceará prevê gastar R$ 47 milhões do Tesouro estadual para a aquisição dos mimos do Ronda Quarteirão. O montante poderá receber reforço de caixa de R$ 17 milhões de emendas de integrantes da bancada federal ao Orçamento da União. Leia-se: de dinheiro dos contribuintes.





Detalhe: todas as especificações do edital do governo cearense miravam apenas e somente a Hilux (combustível, potência do motor, câmbio automático etc.). Mesmo contestado o edital, o governador Cid conseguiu reverter as decisões desfavoráveis na Justiça (dizem que ela é cega) e as Hilux já rodam no Ceará.Cada um dos veículos custa cerca de R$ 150 mil.





Como comparação, uma Chevrolet Blazer 0km, dessas que as polícias paulista e fluminense usam, não chega a R$ 60 mil. Mas o pequeno Ceará é rico e, afinal, muita gente deve ter ficado bem feliz com o negócio.Se lá é assim, imagine o resto.




Fernando Canzian, 40, é repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de Brasil e do Painel e correspondente em Washington e Nova York. Ganhou um Prêmio Esso em 2006.Escreve às segundas-feiras.

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